terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Memórias dos meus avós (maternos)

No domingo de manhã levantámo-nos e o A. saiu para comprar pão, queijo e fiambre para o nosso pequeno almoço. Pusemos as coisas na mesa e eu que estava com uma fome terrível (depois de ter amamentado a Frederica), abri o envelope do fiambre e pus-me a comer uma fatia. Assim que levei a fatia à boca, deixei de estar ali na nossa sala e passei para a sala de um apartamento no terceiro andar de um prédio sem elevador nos Olivais Sul. A casa dos meus avós maternos. 

Deixei de ter trinta e três anos e passei a ser uma criança. Consegui ouvir os passos do meu avô a subir as escadas vindo do "quintal", consegui vê-lo a pendurar a boina no cabide do corredor junto à porta e a ajeitar o cabelo à frente porque ficou colado à testa com a transpiração. 

Consegui ouvir o relógio de parede a tocar (e que som ensurdecedor!) e de sentir o cheiro do esparguete com frango guisado da minha avó. Vi os frascos onde guardava o açucar, a farinha e afins a girar em cima da mesa da cozinha e as batatas guardadas no baú junto à parede. Consegui ver as batatas acabadas de fritar guardadas na gaveita por baixo do forno e de sentir o cheiro do "café das velhas" acabadinho de fazer. 

Consegui abrir a caixa de plástico grande onde guardavam as "carcaças da padeira" e de ver a minha avó sentada no banco da cozinha a debulhar favas ou ervilhas. 

Consegui olhar para o meu avô e de me lembrar que me ensinou o "tico, tico, saranico" e o "alecrim". Consegui cheirar a laca do cabelo da minha avó e de a ouvir chamar-me "faldinha" (o meu avô "coradinha"). Consegui sentir o cheiro da aletria e do doce de tomate guardado no armário e de sentir a colónia do meu avô. Consegui ver o meu avô a serrar na varanda cheia de sol e a minha avó a fazer sopas de pão para atirar aos passarinhos. 

Consegui, ainda, sentar-me no colo do meu avô e de acenar à minha avó que nos esperava debruçada na janela. E lembrei-me do que me ensinaram de mais valioso: o valor da família. 

Saudades vossas. Muitas. Onde quer que estejam, um feliz Natal! Este ano estaremos todos juntos outra vez! 


Aqui um bocadinho mais velha do que a Carminho

Um beijinho, 

Mafalda 

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